|
"Em política compensa" Ruben de Carvalho no "Diário de Notícias" |
|
Domingo, 14 Novembro 2004 |
|
Parafraseando Aristóteles - a quem, de resto, Lenine pediu emprestada a fórmula para a aplicar ao marxismo -, a questão essencial da Ética é que está certa. Ou seja: a Ética não é um normativo apenas pelo que deve ser: é-o por causa daquilo que é. No tempo histórico da política, daqui resulta uma conclusão importante: a falta de Ética pode ser compensadora imediatamente ou a curto prazo porque a situação está a ser; mas quando a situação, o problema, a realidade se definem e assumem consistência, quando claramente passam a ser, então o comportamento ético que a isso se refere - e não o que navegou na transitoriedade - ganha. Por adequação ao que é e por eficácia face ao que pode e deve ser. O saltitante Santana Lopes perguntou a Cavaco Silva se concordava com a congressual tirada de o propor como candidato a Belém? Nada mais duvidoso. Então, no circunstancialismo de um conclave partidário, Santana jogou uma cartada a curto prazo: «entalar» Cavaco, criar para si próprio (perdido outro) o protagonismo do «proponente». E também o ajustar mesquinho de contas velhas e quezílias novas. «Grande jogada», dirão uns. Duvidoso. Dentro de um mês, o calendário de Santana voltará a ser o do seu avassalador fiasco governativo. Mas o de Cavaco será o que definiu: apenas após Sampaio não poder demitir o Governo. E a habilidade não serviu de nada. É sempre melhor ser sério. Em política, compensa. |