| Brigada Victor Jara com Manuel Freire - Tributo a Adriano Correia de Oliveira | |||
| Quarta, 25 Julho 2007 | |
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Brigada Victor Jara com Manuel Freire - Tributo a Adriano Correia de Oliveira Grupo dos Antigos Orfeonistas de Coimbra Disse Adriano Correia de Oliveira que «a canção pode não ter uma influência decisiva, mas é complementar, e interessa que a arte, seja qual for, reflicta exactamente aquilo que se está a passar em cada sociedade. Se não, não é útil e falha substancialmente. Não corresponde à sua função. » Esta é a frase de um músico, de um artista, de um comunista, de um homem que gostava de se situar do «lado certo » – do lado antifascista durante os anos da ditadura, do lado das conquistas de Abril no período revolucionário. Nascido no Porto em 1942, é em Coimbra, onde vai estudar Direito, que se começa a destacar na música, primeiro como tenor no orfeão académico de Coimbra. O ambiente antifascista que se vive na universidade e no País leva Adriano a aderir ao Partido Comunista Português em 1960, ano em que grava o primeiro disco com quatro fados de Coimbra. Os anos seguintes são intensos. Há greves de norte a sul do País e o 1. º de Maio de 1962 é a maior comemoração de sempre do Dia do Trabalhador em Portugal. Nos campos do Sul conquista-se a jornada de oito horas de trabalho e em África inicia-se a guerra colonial. Em Lisboa, na sequência da proibição, pelo governo fascista, da comemoração do Dia do Estudante, intensificam-se as lutas estudantis, iniciando-se uma prolongada greve que alastra às outras academias. Mais de 1500 estudantes são presos. Em 1963, Adriano interpreta a Trova do Vento que Passa , uma das primeiras e decisivas canções de intervenção. Ao longo dos anos 60 e início dos 70, continua a cantar e traz para a música de intervenção novos valores. Na Revolução de Abril, Adriano Correia de Oliveira é abnegado cantor das suas conquistas. E um dedicado construtor da Festa do Avante!. Coerente –«Pratico aquilo que digo na canção. É uma condição fundamental. O importante é que na vida haja coerência absoluta ». Mantém-se um activo militante comunista até ao fim da sua vida, em 1982. Tinha 40 anos. «A única luta pelo poder em que estou empenhado é a luta para que o povo português tome o poder e que nessa luta tenha um papel determinante a actividade do aparelho político organizado que é o PCP, a que pertenço. » Brigada Victor Jara, Manuel Freire e Grupo dos Antigos Orfeonistas de Coimbra Num espectáculo concebido especialmente para a Festa do Avante!, a Brigada Victor Jara junta-se a Manuel Freire e ao Grupo dos Antigos Orfeonistas de Coimbra num grande tributo a Adriano Correia de Oliveira.
Numa pausa do trabalho de abertura de uma estrada para os lados da Lousã, o acaso de uma "viola" e um coro de meia dúzia de vozes terá feito nascer a Brigada Victor Jara. Brigada porque o era de facto, de trabalho e de cantigas. Victor Jara pelo combate, acarinhado e sentado num camião do MFA a caminho de uma aldeia Beirã. No início o canto era "de intervenção", em versões de cantigas de José Afonso, Sérgio Godinho, Victor Jara, Quilapayum. O primeiro contacto com a Música Tradicional (ou Regional? ou Popular?) teve-o no GEFAC (Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra), num ou noutro dos discos-de-capa-de-sarapilheira editados pelo Michel Giacometti, num ou noutro encontro com músicos ou cantadores populares.
Escrevia
a Brigada na capa de Eito Fora (1977) não ignorar que "o
folclore que sai do seu lugar próprio que são os cantos
e as aldeias e esquece o homem na sua relação diária
com o trabalho campestre, corre o risco de não passar de um
produto banal, uma mercadoria que faz as delícias dos
turistas, avinhados ao ritmo dos ferrinhos e da concertina". Ao
mesmo tempo esclarecia não ser o seu trabalho de natureza
etnomusicológica e homenageava "Michel Giacometti e alguns
mais (poucos) que realizaram e realizam com saber e persistência
esse labor tão apaixonante como ingrato". A Brigada Victor Jara nunca pretendeu desempenhar o papel de "preservador" da memória musical do seu povo, nem iniciou o seu trabalho com o fito de atender a modas (de resto já ia longa a sua vida quando o mercado da "world music" inaugurou a primeira prateleira de Cê Dês). Antes se foi ocupando a recontar as melodias apreendidas, misturando-as com os sons das suas próprias vivências. Desigual, a sua discografia é o resultado de um longo processo em que diversos músicos, atravessando o grupo na sua trajectória, vão dizendo de sua justiça, com uma preocupação central (e essencial na arte popular) - a de contar um conto, acrescentando-lhe um ponto. Manuel Freire
Grupo dos Antigos Orfeonistas de Coimbra
Constituído por antigos estudantes da Universidade de Coimbra, apresentou-se pela primeira vez em Dezembro de 1980, por ocasião das comemorações do centenário do Orfeon Académico de Coimbra, onde o Coro foi buscar as suas raízes institucionais.
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