A primeira palavra é de solidariedade para as populações, para os bombeiros, os agentes da protecção civil, para as vítimas, para as famílias das vítimas em particular. Soubemos hoje desta pessoa que morreu, para toda esta gente que enfrenta esta devastação.
Todos os anos a mesma coisa podemos dizer assim. E o problema não é apenas um problema de falta de ajuda internacional. É claro que ela podia e devia ter sido accionada mais cedo, há esse mecanismo. Tudo indicava que era necessário activá-la. Mas a questão de fundo não é só essa.
A questão de fundo é que podem-se aumentar as penas que quiserem para os incendiários, podem aumentar, alterar todas as leis para os incendiários; enquanto não olharmos para o território nacional, para o ordenamento do território, para a ocupação dos territórios, em particular os territórios do interior, dando-lhes vida, dando-lhes possibilidades, dando-lhes pessoas para que elas protejam e estejam em condições de proteger.
Enquanto não dermos as condições e os meios àqueles que têm que combater o fogo — porque, convenhamos, este é um país preso por arames — enfrentamos numa situação destas ciclicamente, todos os anos, e não temos aviões de combate aos incêndios, não temos helicópteros de combate aos incêndios, temos os bombeiros com as dificuldades de meios. Isto não pode continuar assim.
É um problema de uma opção política de desvalorização do território, desvalorização deste património nacional que é a floresta, a desvalorização do território, em particular do interior. Isto tem responsabilidades, tem responsabilidades políticas.
Diria assim: eu podia dar aqui 20 propostas, elas estão todas feitas, toda a gente conhece as propostas, toda a gente conhece o que é preciso fazer. Faça-se! Ora, isso implica opções políticas que não têm sido feitas, e não vale a pena virmos chorar depois, ou empurrando com a barriga para a frente, como foi feito ontem e tem sido feito nos últimos dias.
A questão de fundo é o desinvestimento brutal dos sucessivos governos, e este não está fora disso. Convenhamos que não é possível evitar os fogos, porque é possível investir mais na protecção. É possível investir mais no ordenamento do território. É possível investir mais no ordenamento da nossa floresta. É possível investir mais nos territórios do interior, os mais fustigados por esta situação. É possível investir mais nos bombeiros, nas forças de protecção civil e nos meios para actuar, antecipar e actuar perante os fogos.
Isso é possível. E se fizermos isso de uma vez por todas, com a política ao serviço do território de uma vez por todas, então a devastação não terá esta dimensão assustadora que está a ocorrer no país hoje e nos últimos dias.