Intervenção de João Ramos na Assembleia de República

PCP apresenta proposta para reforço da segurança das embarcações de pesca

Recomenda ao Governo que tome medidas para reforço da segurança das embarcações de pesca local
(projeto de resolução n.º 1411/XII/4.ª)

Sr. Presidente,
Sr.as e Srs. Deputados:
Discutimos hoje uma matéria com bastante interesse para o setor das pescas.
O principal problema das pescas e dos setores produtivos primários é a rentabilidade da sua atividade.
Uma das variáveis do rendimento são os custos dos fatores de produção, em que o preço dos combustíveis representa um grande peso.
Outra variável importante do rendimento é o preço da primeira venda do pescado. Aqui podemos recorrer, por exemplo, aos dados da Docapesca: de acordo com os últimos dados disponíveis, na semana de 6 a 10 de abril de 2015, falam, por exemplo, do preço da sardinha, vendida ao preço máximo de 1, 28 € e ao preço mínimo de 0,48 € — isto quando há escassez, em que a média não ultrapassa os 0,60 €; em relação à cavala, o preço máximo de venda é de 1,24 €; em relação ao carapau, o preço mínimo é de 0,58 €.
É verdade que a temática que hoje aqui tratamos é a segurança e nós falámos na questão da rentabilidade porque, precisamente, a intenção, a vontade e o interesse de os pescadores procurarem a rentabilidade e o rendimento da sua atividade é que, muitas vezes, em situações precárias de segurança, os leva a ir para o mar. Por isso, criar melhores condições de segurança não deixa de estar ligado ao criar melhores rendimentos para a atividade da pesca, porque criando melhores rendimentos, criam-se melhores situações de segurança. Mas, relativamente a esta matéria, o Governo pouco tem feito.
Uma das características da atividade piscatória, e que já foi aqui referida, é o facto de uma parte das embarcações operar a partir de praias e, nestas condições, a entrada e a saída do mar exigem capacidade de propulsão adequada às características da frota e às condições de mar.
Por isso é que aumentar a potência dos motores não é, como muitas vezes se diz, diretamente relacionado com o esforço de pesca. Muitas vezes o Governo referiu esta matéria. Ainda ontem referiu que ao aumentar a potência dos motores se está a aumentar o esforço de pesca. Ora, dadas as características da frota portuguesa, isto não é verdade, uma vez que, nestas condições, aumentar a potência dos motores é aumentar as condições de segurança.
O PCP já tem apresentado muitas vezes propostas neste sentido para dar resposta a este conjunto de problemas, nomeadamente o aumento da potência dos motores, a subsidiação da gasolina, como já aqui foi referido, e até a necessidade de existir um plano de desassoreamento e de não se fazerem apenas desassoreamentos pontuais, pois a realidade tem vindo a demonstrar que é necessária a existência de um plano de dragagens, o que não tem acontecido.
Vale a pena aqui lembrar que, ainda recentemente, em outubro, discutimos uma proposta do PCP — é verdade que ela era específica para a arte xávega — a qual, apesar de nela falarmos nos dois motores, como falamos agora, propunha, precisamente, a existência de um motor principal que poderia ter até 100 cv de potência. E a verdade é que nessa altura, em outubro do ano passado, o CDS e o PSD votaram contra essa proposta. Não há nada como aproximarmo-nos das eleições para aguçar a sensibilidade dos Srs. Deputados do CDS e do PSD relativamente a matérias de segurança.
O projeto de resolução que o PCP apresenta diz, precisamente, que é necessário aumentar a potência dos motores para 100 cv — neste momento, só as embarcações fechadas é que o podem ter e propomos que seja estendido também às embarcações abertas.
Propomos também que tenham um segundo motor, de 60 cv, para ser usado em caso de emergência, o que aumenta, efetivamente, a capacidade das embarcações fechadas, porque essas já têm motor até 100 cv e, por isso, se tiverem mais um motor de 60 cv estão a aumentar a sua capacidade.
Propomos ainda que sejam consideradas embarcações de pesca local todas as embarcações até 12 m de comprimento e não apenas as que tenham até 9 m.
A subsidiação da gasolina é também fundamental, porque as características com que estas embarcações operam, nomeadamente a necessidade de propulsão para entrarem no mar, dependem da utilização de gasolina. Só a gasolina permite a estas embarcações terem propulsão suficiente para garantir as condições de segurança. Por isso é que a questão da gasolina está aqui presente e é tão importante.
A subsidiação da gasolina permitirá que ela seja vendida ao setor a um preço equivalente ao do gasóleo.
A proposta do Bloco de Esquerda não é tão abrangente quanto a do PCP, mas vai no mesmo sentido e por isso a aprovamos.
A proposta do CDS melhora um pouco, mas fica muito aquém do que seria necessário. Por isso, vamos ver até que ponto é que a maioria está efetivamente preocupada com o setor e se vai aprovar as propostas do PCP. Só se aprovarem estas propostas no concreto é que acreditamos que estejam verdadeiramente preocupados com o setor.

  • Economia e Aparelho Produtivo
  • Trabalhadores
  • Assembleia da República