Este relatório faz considerações muito interessantes. Diz, por exemplo, que o êxito do mercado interno é um motor fundamental para aumentar a competitividade e o crescimento e uma das melhores formas para solucionar a crise económica. Estas considerações podem ser interessantes, mas são-no apenas e somente na perspectiva do grande capital económico e financeiro. Certamente que estas considerações não tiveram em conta o desenvolvimento social e económico dos países periféricos e dos seus povos. É porque são esses países que sentem hoje, num período de crise, maiores dificuldades decorrentes da sua fragilização económica, para a qual muito contribuiu - surpresa das surpresas - a construção do mercado interno.
O mercado interno, ou seja, as políticas de liberalização, privatização e desregulamentação da economia, significaram para os países economicamente mais vulneráveis a destruição da sua capacidade produtiva, a diminuição das suas exportaões, o aumento das importações em sectores como a energia e a alimentação, que os deixaram em situações de extrema dependência externa.
Quais foram as consequências do mercado interno para países como o meu, Portugal? Um crescente número de empresas encerradas, nomeadamente Pequenas e Médias Empresas, a destruição de milhares de postos de trabalho, o aumento dos níveis de pobreza, de exclusão e desigualdades, a perda de direitos dos trabalhadores e a generalização da precariedade nas relações laborais, a privatização dos sectores da energia, dos transportes, dos correios, das telecomunicações, da banca, dos seguros, a liberalização de serviços públicos essenciais.
É que na perspectiva do mercado interno não existe a liberdade das pessoas terem direitos sociais e uma vida digna, na perspectiva do mercado interno e de quem o defende só existe liberdade de circulação de mercadorias e capitais. Os trabalhadores de vários países europeus têm lutado corajosamente pelas suas liberdades, pelos seus direitos sociais e económicos e exigido um rumo diferente das actuais políticas.