Intervenção de Paulo Raimundo, Secretário-Geral do PCP, Homenagem a José Dias Coelho «Artista e militante» no 64.º aniversário do seu assassinato

Homenagem a José Dias Coelho

Homenagem a José Dias Coelho

Gostaria de agradecer a todos os presentes, aos membros do Partido mas também aos amigos que aqui se juntam, e permitam-me uma saudação particular à Marta Sofia que nos trouxe a arte e a cultura numa iniciativa onde essa expressão não poderia faltar, desde logo porque fazemos uma justa homenagem a um artista e homem da cultura que foi José Dias Coelho. 

E fazemo-lo mais uma vez e todas as vezes, ano após ano, para prestar homenagem a José Dias Coelho, comunista, revolucionário, corajoso e firme combatente pela liberdade e a democracia.  

Mas também para simbolicamente, prestar homenagem a todos aqueles que, tal como José Dias Coelho, travaram a luta contra o fascismo e pela liberdade.

E fazemos questão de o fazer exactamente neste dia, 19 de Dezembro, nesse dia de 1961 em que José Dias Coelho, neste local, com 38 anos de idade, foi cobardemente assassinado à queima-roupa, pela PIDE, essa polícia política e instrumento do fascismo.

Podem tentar reescrever a história, podem tentar ilibar os carrascos, podem utilizar todos os seus poderosos meios e instrumentos, podem tentar tudo, que a verdade, como sempre, virá ao de cima.

E a verdade é só uma: o fascismo assassinou o homem que poderia ser tudo e tudo ter, mas que decidiu dedicar-se por inteiro à luta pela libertação do seu povo, à luta pela emancipação dos trabalhadores e dos povos, à luta do seu Partido pela conquista da sociedade nova, pelo socialismo.

José Dias Coelho, nascido em Pinhel, com uma infância passada em Coimbra, é em Lisboa, no Colégio Académico, que contacta com importantes figuras como Bento de Jesus Caraça, Lopes Graça, Carlos Oliveira, Abel Manta.

E é já na Escola de Belas Artes de Lisboa, onde cursa arquitectura e depois escultura, que adere à Federação das Juventudes Comunistas.

Em Outubro de 1955, com 32 anos, e depois de ter sido preso, José Dias Coelho ingressa no quadro de funcionários do PCP e entra na clandestinidade. 

E é aí que esse homem da cultura coloca o seu saber e a sua capacidade artística ao serviço da luta revolucionária do seu Partido.

Assim foi na arte da falsificação de documentos, juntamente com a sua companheira, a camarada Margarida Tengarrinha. 

Assim foi na criação de gravuras que ilustraram o Avante!.

Assim foi nas peças e desenhos intemporais, nos documentos, que, sendo falsos, passaram o crivo da censura e do fascismo.

Foi assim nas diversas tarefas que sempre assumiu nas duras condições da clandestinidade, desde logo na dinamização do trabalho unitário, assim foi na frente de solidariedade para com os presos políticos e as suas famílias, no MUNAF, no MUD ou na Comissão de Escritores e Artistas Democráticos.

José Dias Coelho é um dos heróis, é um dos mártires do fascismo, é um exemplo para os comunistas, para todos os amantes da liberdade e da democracia, para a juventude e para todos os agentes da cultura e da arte.

O fascismo assassinou o pintor, o pintor morreu, mas como cantou o poeta:“Que um dia rirá melhor, quem rirá por fim”, e assim foi, a sua luta, a sua dedicação, o seu esforço revolucionário, não foram em vão e também com o seu contributo, a revolução chegou em Abril de 1974. 

Essa revolução que chegou pelas mãos dos militares e foi consagrada pela luta, coragem e força do povo, dos trabalhadores e da juventude. 

A revolução derrotou a odiosa e criminosa ditadura fascista e os assassinos de José Dias Coelho.

A revolução, com a aliança do povo, dos trabalhadores e da juventude com o movimento das forças armadas, tomou nas mãos o seu destino e levou por diante profundas transformações revolucionárias que mudaram o País e se traduziram num extraordinário progresso da sociedade portuguesa.

Essa força imensa que desenhou o regime democrático e o consagrou na Constituição da República em 2 de Abril de 1976. 

A Revolução de Abril abriu um caminho de esperança, um caminho de resposta aos anseios e direitos da maioria, um caminho soberano, de paz, cooperação, progresso e desenvolvimento.

Um caminho interrompido por um processo contra-revolucionário desde 1976, em que sucessivos governos têm recolocado o País nas mãos dos grupos económicos e das multinacionais e, mais uma vez, subjugado a interesses que não os nacionais. 

Têm colocado Portugal numa posição subalterna e como se fosse uma província da União Europeia ou um apêndice dos Estados Unidos ou da NATO. 

Não foi este o trajecto que Abril abriu. 

Abril é avanço e não retrocesso.

Abril é uma política ao serviço da maioria.

Abril é SNS, escola pública, segurança social, serviços públicos, poder económico subordinado ao poder político, é liberdade e democracia.

Abril é direitos das crianças e dos jovens.

Abril é optar pelo trabalho e pelos trabalhadores.

Abril, esse Abril pelo qual lutou José Dias Coelho, é um Abril ao serviço de quem trabalha, de quem trabalhou uma vida inteira, o Abril da juventude. 

Esse Abril que exige hoje, de todos nós, fazer frente à dimensão da operação reaccionária e antidemocrática que está em curso, apoiada e potenciada pelos diversos instrumentos das forças em presença no plano político, institucional, económico e mediático, que não só procura dividir como fomenta o ódio e responsabiliza todos e cada um pelos problemas, menos os verdadeiros responsáveis pela situação a que chegámos.

A falta de profissionais no SNS ou de professores na escola pública não é por causa dos imigrantes;

o custo de vida aumenta não é, certamente, por causa dos 2 milhões de pobres no País;

as habitações estão inacessíveis não é pelos salários de quem trabalha;

as pensões e reformas não aumentam como deviam não é de certeza por responsabilidade e vontade de quem trabalhou uma vida inteira.

Está em desenvolvimento uma intensa ofensiva ideológica que dissemina concepções antidemocráticas, que procura abrir espaço a uma agenda reaccionária e à intensificação de uma política de exploração e ataque aos direitos, que agrava todos e cada um dos problemas que marcam a vida dos trabalhadores e do povo. 

A realidade é que o País está a saque, subordinado ao grande capital e aos seus interesses, esses que encaixam por dia 32 milhões de euros de lucros, à custa e só à custa dos trabalhadores e do povo. 

Este percurso tem responsáveis, beneficiários e vítimas.

Os responsáveis são os partidos que expressam os interesses dos grupos económicos e desenvolvem a política em função desses interesses: PS, PSD, CDS e os seus sucedâneos do Chega e da IL. 

Os beneficiários deste rumo desgraçado são os grupos económicos e as multinacionais, que determinam a agenda política dos seus subordinados. 

E quem paga sempre a factura são os trabalhadores.

Esses mesmos trabalhadores que revelaram a sua força e determinação na greve geral de dia 11 de Dezembro.

Uma Greve Geral que expressa a sua força e unidade, onde se fez ouvir o seu protesto, indignação e confronto com o modelo de exploração e de injustiça a que são sujeitos, de baixos salários, de precariedade, de desregulação dos horários, de condições e ritmos de trabalho insuportáveis, de atropelo aos seus direitos. 

Greve Geral que evidencia o papel central da CGTP-IN, a grande central sindical dos trabalhadores portugueses, do movimento sindical unitário, da sua intervenção mobilizadora e de convergência.

A Greve Geral de dia 11 de Dezembro é histórica e ficará para a história como a  jornada que diz não ao pacote laboral mas também que exige justiça, dignidade, respeito, melhores salários e direitos.

Um momento, uma construção e um processo de resistência, mas também de futuro.

Quem tem a força para pôr tudo a funcionar, quem tem a força para garantir todos os dias que o País avança em todas as frentes e sectores, inclusive na cultura, quem tem a força para produzir e criar toda a riqueza, também tem a força, como ficou demonstrado no dia 11, para derrotar o pacote laboral do patronato a quem PSD, CDS, Chega e IL deram e dão voz. 

Mas também tem a força para retomar esse caminho ao seu serviço, esse caminho pelo qual tantos lutaram, esse caminho que foi objectivo de luta e de vida de José Dias Coelho. 

Um exemplo de força, de confiança, de determinação e de coragem, uma referência para todos e em particular para a juventude.

Um exemplo de compromisso com o Partido Comunista Português, 

que se afirma hoje, olhando para Portugal e para o mundo, como um imperativo para quem quer dar expressão organizada e consequente à resistência, à luta pela liberdade, a democracia, a paz e o socialismo. 

Um exemplo de quem sabe que é belo o ideal e é justa a causa por que luta, um exemplo que importa conhecer e projectar no presente e no futuro

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