Sr. Primeiro-ministro,
O debate que aqui travámos revelou um governo com uma atitude de arrogância e falta de respeito pela vida difícil das pessoas, mas por maior que seja a propaganda, a realidade acaba sempre por se impor.
Vivemos num país onde a esmagadora maioria dos trabalhadores, os que criam a riqueza, os que põem o país e a economia a funcionar, se confrontam com salários baixos.
Um País onde 30 % dos trabalhadores enfrentam o flagelo da precariedade que vai da indústria à hotelaria, das plataformas digitais ao Estado, passando pelo cada vez mais desprezado sector da cultura.
Um País onde investigadores e cientistas estão a ser despedidos e onde, para muitos, é preciso ter dois ou três empregos para pagar a renda, a luz, o gás, a comida.
Um País onde 1 milhão e 800 mil trabalham por turnos e nocturno e, desde logo, os trabalhadores do comércio e serviços não tem feriados, sábados, domingos.
Este é o País onde 300 mil crianças e milhares de trabalhadores vivem na pobreza.
Onde 1 milhão de reformados recebe abaixo de 510 euros por mês.
O País das urgências fechadas, da falta de médicos, de milhares de alunos sem professores, onde pais desesperam por vaga na creche e no pré-escolar e centenas de estudantes abandonam o ensino superior por dificuldades financeiras.
Um país onde o custo de vida não pára de aumentar, onde todos os dias se fazem contas e sacrifícios para conseguir aguentar a casa, que todos os dias empurra a sua gente para a emigração e há quem tenha de optar entre comida e medicamentos.
Um País onde pequenos empresários e agricultores estão aflitos para aguentar o negócio.
Esta é a realidade, que pelos visto o senhor primeiro-ministro desconhece, esta é a vida que está difícil, a vida de pessoas concretas que exigem as respostas que não virão de um programa e de uma política que está em contramão com o caminho que é necessário.
As suas opções são uma afronta à vida difícil da maioria e uma declaração de guerra a quem trabalha.
A sua velha e imobilista receita de baixos salários, exploração, ataque a direitos, mais precariedade, desregular ainda mais os horários de trabalho, serve e de que maneira aos grandes interesses, mas não serve os trabalhadores, à juventude e ao País.
Isto não vai lá com a sua obsessão pela degradação dos serviços públicos, especulação imobiliária, privatizações, do um estado mínimo para os trabalhadores e o povo e um estado máximo para os grupos económicos e as multinacionais de que a negociata do BES / Novo Banco é exemplo.
Mais um ruinoso negócio, ao estilo da ANA.
O Estado perde, garantidamente, bem mais de 6 mil milhões de euros, o grupo americano da Lone Star encaixa parte de leão desses milhões, e o grupo francês fica com o Banco.
É a velha e imobilista receita neoliberal no seu melhor e ao serviço de uma minoria que lucra milhões e milhões de euros à custa da injustiça e da riqueza é pelos trabalhadores e a quem o Governo quer reduzir ainda mais o IRC.
A minoria, que tem nas mãos a banca, os aeroportos, a indústria, a energia, as telecomunicações, hospitais, seguradoras e por aí fora, essa minoria, essa sim que cresce à custa dos benefícios fiscais, dos fundos comunitários, do desvio de recursos públicos e apoios do Estado.
Sabemos quem a representa nesta sala, quem financia e a razão da sua aposta na mentira, demagogia e tentativa de divisão dos trabalhadores, das populações e da juventude.
Senhor primeiro-ministro, a sua velha e imobilista política ao serviço desta minoria, iria transformar Portugal num país mais pobre, injusto e desigual.
Um caminho desastroso que o PCP não poderia deixar passar, a votação da Moção de Rejeição que apresentamos é também um momento de clarificação.
E está claro, Chega, IL e PS são o trio que suporta a política que cheira a troika.
Bem podem apoiar-se uns aos outros, bem podem dizer o que entenderem a vossa política de injustiça merece rejeição.
Quem hoje apoia e suporta esta política amanhã será responsabilizado pelas consequências desastrosas das suas opções.
Mais cedo ou mais tarde esta política será derrotada pela luta dos trabalhadores, do povo e da juventude.